01.07.22 |
Em 29 de novembro de 1947, ONU aprovou a Partilha da Palestina. Os judeus a aceitaram; os árabes, não
Oswaldo Aranha (centro) na Assembleia Geral das Naç:õ:es Unidas. Foto: acervo do jornal :O Globo.
Desde o ano 135 da Era Comum, quando os romanos mudaram o nome da proví:ncia da Judeia para :Palestina, este foi o nome de uma regiã:o geográ:fica - :assim como Sibé:ria e Patagô:nia - dominada ao longo dos sé:culos por diversos impé:rios. Para nossa aná:lise, interessa focar seu :status :antes da Primeira Guerra Mundial, quando era uma subproví:ncia do Impé:rio Otomano, e os donos da maior parte de suas terras viviam em Beirute ou Damasco. Apó:s o final do conflito, a regiã:o passou para domí:nio britâ:nico. Em junho de 1922, a Liga das Naç:õ:es aprovou o Mandato Britâ:nico da Palestina (conforme o mapa abaixo), que estabelecia as responsabilidades e competê:ncias da Grã:-Bretanha na administraç:ã:o da Palestina, incluindo ":assegurar o estabelecimento do Lar Nacional judaico": e ":a salvaguarda dos direitos civis e religiosos de todos os habitantes da Palestina":.
No entanto, o tamanho da Palestina sob o Mandato Britâ:nico mudou conforme os interesses de seu :novo :mandatá:rio. Entre 1917 e :1922, a Palestina era assim:
E em setembro de 1922, o governo britâ:nico apresentou um memorando unilateral - : e em violaç:ã:o ao Artigo 5 dos termos do Mandato-, indicando que a Transjordâ:nia (atual Jordâ:nia) ficaria excluí:da de todas as disposiç:õ:es relativas aos assentamentos judaicos na Palestina.
Assim, a parte da Palestina a leste do Jordã:o passou a ser administrada pela Casa Hashemita (oriunda da :Ará:bia), aliada dos britâ:nicos. Alé:m disso, :as colinas de Golã: passaram ao territó:rio sí:rio, administrado pelos franceses. Assim, a Palestina diminuiu de tamanho em 77%, conforme o mapa abaixo:
Portanto, o territó:rio da atual Jordâ:nia (criada em 1946) já: foi Palestina, e 70 % da populaç:ã:o jordaniana é: composta por palestinos. Por que ningué:m pede aos jordanianos que se retirem dos &ldquo:territó:rios ocupados&rdquo:? Com a ascensã:o do nazismo, um grande nú:mero de judeus começ:ou a emigrar para a Palestina. Entre 1933 e 1936, mais de 160 mil imigrantes chegaram legalmente, alé:m de tantos outros que entraram cladestinamente no paí:s.
Em 1936, houve uma revolta á:rabe, liderada pelo Mufti de Jerusalé:m.
A Grã:-Bretanha respondeu com a nomeaç:ã:o da Comissã:o Peel, que viajou para a Palestina, analisou a situaç:ã:o e recomendou, em 1937, que o Mandato Britâ:nico fosse dividido em dois estados, um á:rabe, com 80% do territó:rio, e outro judeu, com 20% &ndash: proposta recusada pelo Mufti, que seguiu comandando a revolta.
Em 1939, quando a revolta estava terminando, o governo britâ:nico publicou o :":Livro Branco":, que propunha a criaç:ã:o de um ú:nico Estado da Palestina, dentro de dez anos, que nã:o seria nem judaico e nem á:rabe.
A imigraç:ã:o judaica seria controlada e limitada a 75 mil pessoas nos primeiros cinco anos, sujeita à: &ldquo:capacidade de absorç:ã:o da economia&rdquo: e, posteriormente, dependeria do consentimento á:rabe. A compra de terras por judeus també:m seria limitada. Os á:rabes nã:o apenas :recusaram a proposta, como se aliaram aos nazistas na Segunda Guerra. Em 1941, o Mufti :encontrou Hitler em Berlim e seria o principal aliado á:rabe do Terceiro Reich.
Em 1947, os britâ:nicos decidiram sair da &ldquo:Palestina que restou&rdquo:, por nã:o conseguirem administrar os conflitos entre á:rabes e judeus, e solicitaram à: ONU uma decisã:o sobre o territó:rio.
Em 29 de novembro de 1947, a ONU, em Assembleia Geral presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, :aprovou o plano de :Partilha da Palestina (Resoluç:ã:o 181), com a criaç:ã:o de um Estado judeu e um Estado á:rabe (note que a ONU nã:o se refere a um Estado palestino, mas á:rabe). Pois se o territó:rio da Palestina seria partilhado, os dois Estados advindos desta Partilha seriam obrigatoriamente palestinos, o á:rabe e o judeu. Os judeus aceitaram a Partilha: os á:rabes, nã:o. Resultado: o Estado judeu palestino é: Israel: os á:rabes nã:o aceitaram a Partilha e, nas muitas guerras que se seguiram apó:s a fundaç:ã:o de Israel, mostraram que estavam mais preocupados em destruí:-lo do que em construir o seu Estado.
Em 30 de novembro de 1947, um dia apó:s a recusa da Partilha pelos á:rabes, começ:ou uma espiral de violê:ncia - :incitada pelos lí:deres á:rabes e nã:o pelo povo palestino.  :
A Guerra de Independê:ncia
No dia da saí:da dos britâ:nicos da Palestina, 14 de maio de 1948, os judeus criaram Israel. Cinco paí:ses á:rabes - Egito, Sí:ria, Transjordâ:nia (atual Jordâ:nia), Iraque e Lí:bano-, em desrespeito flagrante à: resoluç:ã:o 181, atacaram Israel um dia apó:s sua independê:ncia. O Estado judeu foi deixado à: pró:pria sorte pela comunidade internacional.
Os principais exé:rcitos á:rabes que invadiram o Estado judeu recé:m-criado foram equipados e treinados pelos britâ:nicos. O exé:rcito sí:rio foi equipado pelos franceses e tinha recebido ordens do governo de Vichy para resistir à: invasã:o britâ:nica do Oriente Mé:dio durante a Segunda Guerra.  :
Já: Israel dependeu quase que unicamente de armas compradas na entã:o Tchecoslová:quia. No final de 1947, o Departamento de Estado americano :decretou um embargo de armas e material de guerra para judeus e á:rabes na Palestina, uma decisã:o que só: teve um efeito na prá:tica. Como nã:o havia comunidade á:rabe na Amé:rica do Norte, mas uma comunidade judaica substancial e :ansiosa para ajudar os israelenses, o embargo impediu que grande parte desta ajuda chegasse ao seu destino. O pequeno nú:mero de suprimentos e armas enviados a Israel da Amé:rica do Norte chegou por contrabando. Um grupo de pilotos veteranos da Segunda Guerra Mundial se ofereceu para lutar por Israel, contrabandeando aviõ:es Messerschmitt sucateados. O documentá:rio &ldquo:Acima e Alé:m&rdquo: [&ldquo:Above and Beyond&rdquo:, no original] conta a histó:ria desse grupo e mostra como ele nã:o apenas evitou a destruiç:ã:o do Estado judeu, como també:m criou as bases para a Forç:a Aé:rea israelense. O filme revela que, em 1948, Israel dispunha de apenas trê:s aviõ:es em condiç:õ:es de voar.
Composto em 80% por cenas de arquivo, mostra a desproporç:ã:o das forç:as em combate (com cenas de Tel Aviv bombardeada pela Forç:a Aé:rea egí:pcia e tanques egí:pcios avanç:ando sem resistê:ncia pelo deserto do Negev). Nã:o há: como afirmar que Israel estava preparado para a guerra: 6.000 soldados judeus morreram no conflito, quase 1% da populaç:ã:o de Israel na é:poca. Veja o trailer, especialmente a partir de 3:00 min.
Apesar de tudo - e com a morte de 1% de sua populaç:ã:o durante um ano de guerra - :Israel venceu. A intransigê:ncia á:rabe criou o problema dos refugiados palestinos. Criou :també:m a ":causa palestina": e a tã:o citada Nakba, a catá:strofe palestina.
Uma parte dos palestinos fugiu, outra :saiu a pedido dos pró:prios paí:ses á:rabes invasores - que lhes garantiram que poderiam voltar assim que a guerra estivesse ganha-, :e outra parte :foi expulsa (a propaganda ":pró:-palestina": clá:ssica :afirma :que todos foram expulsos), :e mesmo estes o foram em um contexto de guerra. Nã:o houve polí:tica deliberada de expulsã:o &ndash: e nem poderia haver, porque Israel foi o atacado e nã:o o agressor. Boa parte dos palestinos ficou em Israel: eles :sã:o hoje 20% da populaç:ã:o &ndash: , artistas, estudante universitá:rios, mé:dicos, engenheiros, jogadores de futebol, ministros na Suprema Corte. A :Lista :Á:rabe é: o terceiro partido no Parlamento.
Fato: se os á:rabes tivessem aceitado a Partilha, os palestinos nã:o teriam sido desalojados. :O pró:prio Mahmoud Abbas reconheceu :(apenas em 2011) o erro á:rabe.
Nã:o é: muito difí:cil ver a dimensã:o deste :erro. Este é: o mapa da Partilha:
Note-se que o deserto do Negev, ao sul de Bersheba &ndash: ú:nica grande cidade do Negev, que ficaria no Estado á:rabe-, é: uma regiã:o pouco habitada até: hoje, e representava 60 % (8.600 km2) da á:rea designada ao Estado judeu. Na parte nã:o desé:rtica, a á:rea á:rabe (11.700 km2) seria o dobro da á:rea judaica (5.700 km2). Para efeito de comparaç:ã:o, a á:rea do Estado de Sergipe é: 21.900 km2.
Apó:s a Guerra de Independê:ncia (1948-1949), Israel conquistou parte da á:rea á:rabe indicada pela Partilha: a Jordâ:nia ocupou a Cisjordâ:nia: o Egito ocupou Gaza (nenhum dos dois jamais pensou em criar ali um Estado palestino, tanto que mantiveram a ocupaç:ã:o até: a Guerra dos Seis Dias, em 1967). A Guerra dos Seis Dias e os ":territó:rios ocupados":
Em 1967, o lí:der egí:pcio Gamal Abdel Nasser ameaç:ava aniquilar Israel e fechou o acesso do paí:s ao Mar Vermelho. Israel lanç:ou um ataque preventivo e conquistou os territó:rios, que nã:o eram palestinos no terreno, mas egí:pcios e jordanianos. Passaram a ser &ldquo:palestinos&rdquo: apó:s a vitó:ria de Israel na Guerra dos Seis Dias (nã:o contra os palestinos, já: que nunca houve um Estado palestino, mas contra Egito, Sí:ria e Jordâ:nia, nunca é: demais esclarecer).
É: importante lembrar també:m que a Organizaç:ã:o para Libertaç:ã:o da Palestina foi fundada em 1964, quando os famosos &ldquo:territó:rios ocupados&rdquo: estavam ocupados por Egito e Jordâ:nia. O objetivo da OLP era, portanto, destruir Israel. Somente em 1988, a entidade retirou :esta claú:sula de sua Carta.
Alé:m disso, o armistí:cio assinado em 1949 entre Israel e Jordâ:nia previa o livre acesso aos lugares santos de Jerusalé:m Oriental. No entanto, a Jordâ:nia nã:o apenas proibiu o acesso dos judeus aos locais, como dessacralizou e destruiu dezenas de sinagogas e cemité:rios judaicos. Somente apó:s a reunificaç:ã:o de Jerusalé:m, em 1967, passou a haver liberdade de culto para as trê:s grandes religiõ:es monoteí:stas: judaí:smo, :cristianismo e islamismo (cujas á:rea sagradas sã:o administradas por uma instituiç:ã:o jordaniana).
A tã:o citada :Resoluç:ã:o 242 pede a retirada de Israel de territó:rios conquistados na Guerra dos Seis Dias, em 1967. A mesma resoluç:ã:o &ndash: mas isso é: raramente citado &ndash: també:m pede o reconhecimento da soberania, integridade territorial, independê:ncia polí:tica e o direito de viver em paz de todos os Estados da regiã:o. Veja o texto:
No entanto, em setembro de 1967, oito Estados á:rabes reuniram-se no Sudã:o e proclamaram os infames &ldquo:Trê:s Nã:os&rdquo:: nã:o à: paz com Israel: nã:o ao reconhecimento de Israel: nã:o à:s negociaç:õ:es com Israel&rdquo:. Refugiados á:rabes e judeus
A ONU criou em 1949 a UNRWA- United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East, uma agê:ncia exclusiva para assuntos relacionados aos refugiados palestinos, enquanto que outra comissã:o, a UNHCR- United Nations High Commissioner for Refugees, se encarrega de TODOS OS OUTROS refugiados do mundo.
A UNHCR tem a tarefa de realocar os refugiados, mas a UNRWA, nã:o. Já: em 1951, apenas dois anos apó:s o final da Guerra de Independê:ncia de Israel, o entã:o diretor da UNRWA, John Blanchford, propô:s que os refugiados palestinos fossem incorporados aos paí:ses á:rabes. O que aconteceu? Ele foi demitido...
Pelo estatuto singular da UNRWA, descendentes de refugiados també:m sã:o refugiados. O estatuto da UNHCR, criada em 1950, é: diferente e nã:o contempla essa clá:usula. Por isso, os palestinos conseguem manter sua condiç:ã:o de refugiados (de 700 mil a 5 milhõ:es) há: mais de 65 anos, o que incentiva a manutenç:ã:o de uma &ldquo:cultura do refugiado&rdquo:. :A UNHCR :já: encontrou soluç:ã:o para cerca de 10 MILHÕ:ES :de refugiados de todo o mundo. :
A maior parte dos fundos que financiam a UNRWA é: da Europa e dos EUA, e nã:o dos paí:ses á:rabes e/ou muç:ulmanos. É: que para estes os palestinos servem como massa de manobra em seu objetivo de deslegitimizar Israel.
Pouca gente sabe, mas 850 mil judeus foram expulsos de paí:ses á:rabes a partir de 1948. Ningué:m fala hoje dos refugiados judeus porque eles foram, em sua maioria, absorvidos por Israel, e com grande dificuldade. O paí:s, entã:o :pobre, dobrou sua populaç:ã:o entre 1948 e 1952. Já: os paí:ses á:rabes jamais absorveram com plenos direitos os &ldquo:irmã:os&rdquo: palestinos.