01.07.22 |
Historiador Roney Cytrynowicz lança Guia de Visitação ao Cemitério Israelita de Vila Mariana
Em entrevista à CONIB, o historiador Roney Cytrynowicz fala sobre o seu recém-lançado Guia de Visitação ao Cemitério Israelita de Vila Mariana, que completou 100 anos em 2021 – um marco na história judaica paulista e com grande relevância para o patrimônio histórico e cultural da cidade e do estado de São Paulo. O Guia está à venda na Livraria Sefer (www.sefer.com.br). Veja a seguir a entrevista: Aproveitando a ocasião do aniversário da cidade, no dia 25 de janeiro, fale sobre esse projeto e a contribuição cultural dos judeus a São Paulo. O Cemitério é um arquivo da memória da imigração e da presença judaica em São Paulo e da história de um mundo destruído no Holocausto, o do judaísmo da Europa Oriental e Europa Central, que eram o centro da vida judaica até a Segunda Guerra Mundial. O Guia, que tem 176 páginas e 5 roteiros, mapas e fotografias, foi pesquisado e escrito na perspectiva de inserir a trajetória da imigração e da comunidade judaica na história da cidade de São Paulo, nos campos da cultura, das artes, da política, da economia, apresentando pessoas e instituições que construíram esta história. Isto é feito por meio da proposta de conhecer cerca de 120 túmulos, com sua diversidade de formatos de sepulturas, pequenas esculturas e monumentos, ornamentos, fotografias e inscrições em várias línguas. Junto com a escola Renascença, fundada em 1922, o Cemitério da Vila Mariana, de 1920, e a Chevra Kadisha, de 1923, são as entidades judaicas mais antigas com o mesmo nome e ainda em plena atividade. São entidades fundadoras da comunidade judaica. O que se destaca nesse projeto pelo fato de ter sido um dos 10 escolhidos entre 100 outros inscritos? Este projeto foi selecionado pelo Proac, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, na categoria de “Produção e Publicação de Obras sobre Patrimônio Histórico e Cultural Material e Imaterial”. Acho que foi o interesse em apoiar e tornar públicos, na forma de um Guia, um cemitério e uma história pouco conhecidos, inseridos na história da cidade e de seus espaços urbanos. Em 2011 eu já havia realizado junto com o arquiteto Marcos Cartum um Memorial de história do Cemitério da Vila Mariana, na antiga Casa de Tahará, que pode ser visitado. Como é feita a visitação? As visitas ao Cemitério podem ser bem interessantes para o público em geral e grupos específicos, como alunos de escolas. As pessoas têm curiosidade e se interessam muito em andar e conhecer um lugar histórico tão singular e ao qual não costumamos ir para passear. Escolas podem propor projetos de estudo a partir das histórias que conhecemos ao pesquisar dentro do Cemitério. A Associação Cemitério vai definir as visitas guiadas. O Guia também estará disponível para a visitação. Instituições e escolas podem solicitar o Guia gratuitamente em editora@narrativaum.com.br Cite algumas das histórias de personalidades entre as que estão nos 120 túmulos escolhidos para visitação. Entre muitas personalidades interessantes da cultura e das artes, eu mencionaria a pioneira da televisão brasileira e escritora de livros infantis Tatiana Belinky, o artista plástico Lasar Segall e o ator de teatro ídiche Miguel (Mile) Cipkus. Muitas dessas sepulturas têm inscrições pessoais que lembram e evocam o seu trabalho. E há muitas histórias curiosas, como uma escultura em forma de maleta de médico na sepultura de um médico, os túmulos em forma de livro de um casal e, por exemplo, uma sepultura com uma escultura esférica de pedra em forma de globo, que tem encravado nele em alto relevo um mapa e o trajeto de uma mulher imigrante, de sua origem em um vilarejo na Lituânia até São Paulo. Mostra a força dessa trajetória que atravessou o globo, o peso que ela teve definindo a vida desta mulher. O Guia selecionou muitas personagens mulheres e suas trajetórias no processo de imigração judaica. A proposta de visitação turística em cemitério tem tido adesão do público? E que tipo de público tem demonstrado mais interesse nas visitas? Acho que pessoas em geral interessadas em conhecer a cidade, sua história e seus lugares da memória e os diversos grupos que formaram São Paulo podem se interessar em visitar o Cemitério Israelita da Vila Mariana. A cidade tem cemitérios que são verdadeiros museus de história e de arte a céu aberto, como os da Consolação, Araçá, São Paulo e outros importantes lugares da memória, como um antigo cemitério da população negra no bairro da Liberdade. A Prefeitura já oferece visita ao da Consolação e há grupos interessados em conhecer estes lugares em geral. Roney Cytrynowicz é historiador, com doutorado em História pela USP, diretor da Narrativa Um (www.narrativaum.com.br) e autor de diversos livros, entre eles “Memória da Barbárie. A história do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial” (Edusp) e outros sobre imigração e história de instituições judaicas, entre eles o da Conib 70 anos, Renascença, Lar das Crianças da CIP e Unibes.