01.07.22 |
Diferenças de costumes entre asquenazitas e sefaraditas em Pessach vão além dos hábitos alimentares
As diferenças entre asquenazitas e sefaraditas sobre costumes de Pessach não se restringem apenas a hábitos alimentares. Como e quando se preparar para a festa é outro ponto de diferenciação. Muitos dos preparativos para Pessach são realizados com bastante antecedência, sendo recomendado que haja um envolvimento pessoal de todos os membros da família e da comunidade. Em alguns núcleos, por exemplo, as famílias participam do processo da assar as matzot para as noites do Seder. O próprio Seder é marcado por muitos costumes diferentes entre asquenazitas e sefaraditas, apesar de o texto da Hagadá ser basicamente o mesmo. Há variações nas canções que encerram o ritual e que são cantadas em diversas línguas. O empresário, ativista comunitário e especialista em gastronomia Gabriel Zitune explica que os sefaraditas, por exemplo, comem arroz e sua alimentação gira em torno de comidas árabes, como pastas de gergelim, legumes e frutas secas, além de farinha de fécula de batata e de matzá. Os kibes, segundo afirmou à CONIB, costumam ser feitos de farinha de matzá e arroz cozido. Zitune afirma que os sefaraditas são muito tradicionalistas: não viajam neste período de Pessach e ficam muito voltados para as rezas diárias nas sinagogas. Não se fazem casamentos ou bar mitzva neste período, apenas brit milá, diz ele. Já a base dos asquenazitas é a batata, o caldo com kneidales, o farfale que acompanha as carnes e os peixes, diz ele. Para Pessy Gansburg, autora do livro ‘Shabat - Costumes e Tradições Judaicas’, os judeus são proibidos de ingerir a mais ínfima partícula de chametz durante o Pessach. E chametz é qualquer comida ou bebida feita à base de trigo, centeio, cevada, aveia ou derivados, que são produtos fermentados. A única exceção é a matzá, diz ela. Pessy explica que a massa fermentada (chametz) cresce e incha, simbolizando orgulho e ostentação. Já a matzá, fina e plana, simboliza submissão (à vontade Divina) e a humildade. “A cada ano, em Pessach, somos ordenados pela Torá a nos livrarmos de todos os traços de chametz – incluindo nosso “chametz espiritual”: a arrogância – para reconhecer nossas falhas e as qualidades de nossos semelhantes”, destaca. Ela cita um costume interessante realizado na noite anterior a Pessach: “À luz de uma vela, a família percorre os aposentos da casa para verificar se algum alimento chametz foi “esquecido”. Costuma-se preparar dez pedacinhos de pão bem embrulhados em papel e colocá-los espalhados pelos diversos ambientes, para serem achados durante a busca. E a família participa desse costume, munida com uma pena que serve para “varrer” o chametz. “As crianças curtem muito este momento”, diz ela. Em Israel se pergunta por que os rabinos não padronizam os costumes no país onde asquenazitas e sefaraditas convivem e formam uma única sociedade? A resposta é que, sob uma perspectiva haláchica, qualquer costume aceito por uma comunidade durante um período de tempo significativo tem um grande peso. E o que os rabinos das diferentes comunidades afirmam é que um costume antigo, observado há centenas de anos, não pode ser mudado.